CAPOEIRA: A
HISTÓRIA E TRAJETÓRIA DE UM PATRIMÔNIO CULTURAL DO BRASIL
Os autores Ricardo
Martins Porto Lussac e Manoel José Gomes Tubinho, relatam a história da
capoeira em relação à origem brasileira, entretanto, presente em várias regiões
e em vários momentos políticos e sociais desde a colonização do Brasil.
O artigo apresenta acontecimentos e datas baseados em
referências bibliográficas e afirma o reconhecimento da capoeira como
patrimônio cultural imaterial do Brasil em julho de 2008 pelo IPHAN Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O texto abrange o período de 1500 até 2009, dentro do
território brasileiro, sem se basear em possíveis influências africanas, afirma
que várias áreas têm investigado a história da capoeira, entre elas Jornalismo,
Comunicação e Sociologia, sua prática começou a ser documentada na primeira
década do século XIX no Rio de Janeiro, mas, antes disso, no século XVI a expressão
era usada para designar tanto os praticantes do jogo-luta, como também para
malfeitores, ladrões e bandidos, onde é constada em registro policial e
processos jurídicos, após, em 1808, com a chegada da Corte Portuguesa, outras
formas de registros foram feitas por viajantes estrangeiros, destacam o artista
Rugendas, o qual fez registros por meios textuais e de gravuras.
Os autores relatam que ao no início do século XIX a
capoeira era praticada no meio urbano, por escravos e africanos, negros,
mestiços e índios, porém, no decorrer do século XIX, aumentou-se o número de pessoas
de diferentes classes sociais, entre elas, livres, libertos, crioulos, pardos, imigrantes
europeus, descendentes de africanos, militares, portugueses, inclusive, membros
da elite social.
No final do século XIX e início do século XX, os autores
lembram que a capoeira fazia parte da cultura trabalhadora, tanto no Rio de
Janeiro, Bahia e no Pará, afirmam também por meio de documentos, o surgimento
da capoeira em outros estados do Brasil, como Pernambuco, Pará e São Paulo, a
capoeira, teve em muitos momentos relação com resistência e violência, até a
Proclamação da República, onde foi reprimida, pelo novo governo, tanto que a
prática em praças e ruas foi proibida pelo código penal em 1890, principalmente
no Rio de Janeiro, onde muitos capoeiristas foram deportados para o presídio de
Fernando de Noronha, desta forma, muitos capoeiristas da época foram obrigados
a procurarem outras formas de sobrevivência, alguns se refugiaram mantendo
laços com o Estado e o poder, outros ainda vieram a compor a nata da
malandragem.
Os autores afirmam que desde o século XIX, alguns
intelectuais da época já percebiam que a capoeira poderia ser praticada como
ginástica e luta nacional, podendo ser aproveitada nos meios militares e na
formação física dos jovens, onde houve em 1907 a publicação de uma obra, entre
outras, intitulada O Guia do Capoeira e Ginástica Brasileira de Zuma, Aníbal
Burlamaqui (1928) a qual teve grande importância em relação aos capoeristas
repensarem sua prática como esporte-luta, ocorrendo mudanças na arte luta, os
autores citam nomes de professores que ensinaram a prática, destacam Sinhozinho do Rio de Janeiro, que
juntamente com a obra de Zuma, influenciaram Mestre Bimba, o qual criou a sua
luta Regional Baiana, levando ao um novo
movimento naquela região denominada Capoeira Angola, este se opôs a capoeira
Regional de Bimba, por razões relacionadas a reivindicações socioculturais e identitária
de seus praticantes.
A partir deste momento, segundo os autores, a capoeira
foi irradiada por todo território brasileiro e pelo mundo, principalmente por
seu caráter lúdico, com seus instrumentos musicais, distanciando-se do aspecto
bélico, em relação a um dos instrumentos, o berimbau, os autores citam que estes
antes eram utilizados por vendedores ambulantes, sendo incorporado na capoeira
somente no século XX, afirmam também que em Salvador foi o local que menos
sofreu em relação à repressão da capoeira e que em Pernambuco a capoeira deixou
seu legado nos passos do frevo. Em 1945 no Rio de Janeiro Innezil Penna Marinho
publica Subsídios para o estudo da metodologia do treinamento da capoeiragem,
com a intenção de revitalizar a arte-luta, Innezil tentou sem êxito em 1980
implantar o projeto Ginástica Brasileira, porém ajudou a divulgar a capoeira, outras
obras foram publicadas com o intuito de divulgar a capoeira como esporte, luta,
defesa pessoal, ginástica e também como parte do folclore brasileiro.
Os autores terminam o artigo, abrindo um vasto leque de
possibilidades de pesquisa em relação à capoeira, nos seus vários aspectos:
filosóficos, culturais, históricos, étnicos, profissionais, institucionais
entre outros, inclusive a própria prática, principalmente nos meios acadêmicos,
como na área da Educação Física, os autores afirmam que a capoeira, de origem
brasileira, hoje incentivada e protegida e amparada por lei federal é
considerada uma das práticas esportivas mais complexas e completas da
humanidade (BRASIL, 1988).
Neste artigo pude constatar um pouco da história da
capoeira e que ela se relaciona diretamente com a história política e social
brasileira, muitas vezes discriminada e em outras valorizadas através de
intelectuais e principalmente de seus praticantes, sabe-se que a capoeira
atualmente é muito apreciada em vários países, que é a única luta, arte, esporte
com música do mundo, porém, os mestres poderiam ser mais valorizados, em
relação a seus direitos, para poderem ter mais dignidade e recursos, quando
estão ensinando a sua prática e também na velhice, para não acontecer o que
aconteceu com mestres como Bimba e Pastinha, que no final da vida, estavam em situações
financeiras muito difíceis e lamentáveis, mesmo tendo dedicados suas vidas para
a capoeira.
O artigo mostra-se de grande importância para os
praticantes de capoeira, para os acadêmicos e profissionais da área de Educação
Física, entre outros, devido à profundidade da pesquisa feita em várias regiões
do Brasil.
Sobre os autores: Ricardo Martins Porto Lussac, Mestrando
em Ciência da Motricidade Humana (PROCIMH) - LABESPORTE - Universidade Castelo
Branco – RJ, Brasil; Mestre em Capoeira (Mestre Teco – RJ) e Integrante do
Conselho de Mestres da Federação de Capoeira do Estado do Rio de Janeiro
(FCERJ); Professor da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro,
Brasil. Manoel José Gomes Tubinho Presidente da Federation Internacionale
D’Education Physique (FIEP); Professor Doutor docente do PROCIMH - LABESPORTE -
Universidade Castelo Branco – RJ, Brasil; Professor Pesquisador da UNISUAM –
RJ, Brasil.