terça-feira, 14 de agosto de 2012

Resenha do Artigo de Capoeira


CAPOEIRA: A HISTÓRIA E TRAJETÓRIA DE UM PATRIMÔNIO CULTURAL DO BRASIL

         Os autores Ricardo Martins Porto Lussac e Manoel José Gomes Tubinho, relatam a história da capoeira em relação à origem brasileira, entretanto, presente em várias regiões e em vários momentos políticos e sociais desde a colonização do Brasil.

            O artigo apresenta acontecimentos e datas baseados em referências bibliográficas e afirma o reconhecimento da capoeira como patrimônio cultural imaterial do Brasil em julho de 2008 pelo IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

            O texto abrange o período de 1500 até 2009, dentro do território brasileiro, sem se basear em possíveis influências africanas, afirma que várias áreas têm investigado a história da capoeira, entre elas Jornalismo, Comunicação e Sociologia, sua prática começou a ser documentada na primeira década do século XIX no Rio de Janeiro, mas, antes disso, no século XVI a expressão era usada para designar tanto os praticantes do jogo-luta, como também para malfeitores, ladrões e bandidos, onde é constada em registro policial e processos jurídicos, após, em 1808, com a chegada da Corte Portuguesa, outras formas de registros foram feitas por viajantes estrangeiros, destacam o artista Rugendas, o qual fez registros por meios textuais e de gravuras.   
        
            Os autores relatam que ao no início do século XIX a capoeira era praticada no meio urbano, por escravos e africanos, negros, mestiços e índios, porém, no decorrer do século XIX, aumentou-se o número de pessoas de diferentes classes sociais, entre elas, livres, libertos, crioulos, pardos, imigrantes europeus, descendentes de africanos, militares, portugueses, inclusive, membros da elite social.

            No final do século XIX e início do século XX, os autores lembram que a capoeira fazia parte da cultura trabalhadora, tanto no Rio de Janeiro, Bahia e no Pará, afirmam também por meio de documentos, o surgimento da capoeira em outros estados do Brasil, como Pernambuco, Pará e São Paulo, a capoeira, teve em muitos momentos relação com resistência e violência, até a Proclamação da República, onde foi reprimida, pelo novo governo, tanto que a prática em praças e ruas foi proibida pelo código penal em 1890, principalmente no Rio de Janeiro, onde muitos capoeiristas foram deportados para o presídio de Fernando de Noronha, desta forma, muitos capoeiristas da época foram obrigados a procurarem outras formas de sobrevivência, alguns se refugiaram mantendo laços com o Estado e o poder, outros ainda vieram a compor a nata da malandragem.

            Os autores afirmam que desde o século XIX, alguns intelectuais da época já percebiam que a capoeira poderia ser praticada como ginástica e luta nacional, podendo ser aproveitada nos meios militares e na formação física dos jovens, onde houve em 1907 a publicação de uma obra, entre outras, intitulada O Guia do Capoeira e Ginástica Brasileira de Zuma, Aníbal Burlamaqui (1928) a qual teve grande importância em relação aos capoeristas repensarem sua prática como esporte-luta, ocorrendo mudanças na arte luta, os autores citam nomes de professores que ensinaram a prática,  destacam Sinhozinho do Rio de Janeiro, que juntamente com a obra de Zuma, influenciaram Mestre Bimba, o qual criou a sua luta Regional Baiana,  levando ao um novo movimento naquela região denominada Capoeira Angola, este se opôs a capoeira Regional de Bimba, por razões relacionadas a reivindicações socioculturais e identitária de seus praticantes.

            A partir deste momento, segundo os autores, a capoeira foi irradiada por todo território brasileiro e pelo mundo, principalmente por seu caráter lúdico, com seus instrumentos musicais, distanciando-se do aspecto bélico, em relação a um dos instrumentos, o berimbau, os autores citam que estes antes eram utilizados por vendedores ambulantes, sendo incorporado na capoeira somente no século XX, afirmam também que em Salvador foi o local que menos sofreu em relação à repressão da capoeira e que em Pernambuco a capoeira deixou seu legado nos passos do frevo. Em 1945 no Rio de Janeiro Innezil Penna Marinho publica Subsídios para o estudo da metodologia do treinamento da capoeiragem, com a intenção de revitalizar a arte-luta, Innezil tentou sem êxito em 1980 implantar o projeto Ginástica Brasileira, porém ajudou a divulgar a capoeira, outras obras foram publicadas com o intuito de divulgar a capoeira como esporte, luta, defesa pessoal, ginástica e também como parte do folclore brasileiro.

            Os autores terminam o artigo, abrindo um vasto leque de possibilidades de pesquisa em relação à capoeira, nos seus vários aspectos: filosóficos, culturais, históricos, étnicos, profissionais, institucionais entre outros, inclusive a própria prática, principalmente nos meios acadêmicos, como na área da Educação Física, os autores afirmam que a capoeira, de origem brasileira, hoje incentivada e protegida e amparada por lei federal é considerada uma das práticas esportivas mais complexas e completas da humanidade (BRASIL, 1988).

            Neste artigo pude constatar um pouco da história da capoeira e que ela se relaciona diretamente com a história política e social brasileira, muitas vezes discriminada e em outras valorizadas através de intelectuais e principalmente de seus praticantes, sabe-se que a capoeira atualmente é muito apreciada em vários países, que é a única luta, arte, esporte com música do mundo, porém, os mestres poderiam ser mais valorizados, em relação a seus direitos, para poderem ter mais dignidade e recursos, quando estão ensinando a sua prática e também na velhice, para não acontecer o que aconteceu com mestres como Bimba e Pastinha, que no final da vida, estavam em situações financeiras muito difíceis e lamentáveis, mesmo tendo dedicados suas vidas para a capoeira.  

            O artigo mostra-se de grande importância para os praticantes de capoeira, para os acadêmicos e profissionais da área de Educação Física, entre outros, devido à profundidade da pesquisa feita em várias regiões do Brasil.

            Sobre os autores: Ricardo Martins Porto Lussac, Mestrando em Ciência da Motricidade Humana (PROCIMH) - LABESPORTE - Universidade Castelo Branco – RJ, Brasil; Mestre em Capoeira (Mestre Teco – RJ) e Integrante do Conselho de Mestres da Federação de Capoeira do Estado do Rio de Janeiro (FCERJ); Professor da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Manoel José Gomes Tubinho Presidente da Federation Internacionale D’Education Physique (FIEP); Professor Doutor docente do PROCIMH - LABESPORTE - Universidade Castelo Branco – RJ, Brasil; Professor Pesquisador da UNISUAM – RJ, Brasil.

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